1088-E O CORVO DISSE -

Noite de terror, pavor e assombrações.

Tempestade, raios, trovões.

Sinto-me à beira de caos e devastações

Desespero e insônia à véspera de eleições

Rolando entre lençóis, por suor transido,

Vejo ao pé de minha cama pousado

Um corvo de olhos verdes; um mal fadado

Que, de repente, em rouco e perverso grasnido

Falou como se fosse um demo falastraz:

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...”.

Perturbado por estar onde jamais

Pensei estar: das grades atrás

Começo a pensar e a repensar na minha vida

Enquanto, a cada pensamento, o corvo revida:

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...”.

Penso na gloriosa estrela vermelha

Que me guiou. uma viva centelha.

Foi-se o martelo; na presidência

E no poder que me colocava em evidência

E o corvo repetia com proféticos sinais:

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...".

Amizades com os Castros, Chávez e Maduro,

Trocas de cortesias com o Mahamud Iraniano.

Acordos maliciosos no final lesando

O dinheiro de impostos que o povo vai pagando

E o corvo, repetindo, sem parar jamais:

“Nunca mais, nunca mais, nuca mais...”.

O metrô de Caracas financiado

Um porto inútil em Cuba construido

Aqueduto na Argentina enterrando

Refinaria à Bolívia entregada

De mão beijada

E o corvo, impávido, repetia, nunca assaz:

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...”.

Conchavos secretos ou nem tanto

Dinheiro para o Semterra ir se armando

Corrupção que via e dizia ignorando

A parentalha protegida e enriquecendo

E o corvo dizia como oráculo mordaz

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...”.

Banquetes para mandíbulas vorazes

Viagens inúteis para desimportantes países

Cartões de credito sem limite, inimagináveis.

Apartamento triplex, luxos irreais.

O Corvo dizia impávido demais:

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...”.

Discursos irados

Ameaças a juristas

Vaidade sem razão

Liberdade e opinião.

E o corvo disse

Olhando para mim, mísero prisioneiro:

“Nunca mais, nunca mais, nunca mais...”.

Após o que, o voo alçou, altaneiro,

E mesclou com a tempestade, de negro nevoeiro.

Antonio Roque Gobbo

Belo Horizonte, 4 de outubro de 2018.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 14/12/2018
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