A vida em si
Com o passar dos anos a gente começa a perceber que a vida em si não se resume às atividades que realizamos no dia a dia. Não tem nada a ver com nossa rotina de trabalho ou estudo. Tampouco com nossas relações interpessoais. A vida em si é um conjunto de coisas tão complexas, que estabelece relações dificultosas e confusas em tudo que nos circunda. Pensar que a vida é aquela peça teatral, com narrativas falsas e poéticas, cheias de dramaturgia nos remete à necessidade de se pensar no "backstage", onde as maquiagens se esvaem n'água e os problemas "solucionados" em cena se refletem na vida real de formas talvez, não solucionáveis e, que a mocinha precisa se submeter ao trabalho doméstico e que ela, em alguns momentos, também é vilã e, que o "ser vilão" talvez se traduza numa configuração de estratégia de sobrevivência. A vida em si é muito mais abrangente do que o que está posto. Ela diverge da lógica educacional, onde a professora é a detentora do conhecimento e o aluno (no sentido scrictu sensu, onde a-luno se refere ao ser sem luz) é um mero espectador. É divergente da lógica mercadológica do capitalismo, em que o trabalhador precisa produzir muito e ganhar pouco para continuar no ciclo de produção. A vida em si, ela está distante das redes sociais utilizadas como vitrine de nossas vidas. A vida em si ela é o que atravessa todos esses contextos e no final te coloca pra refletir sobre os "porquês". Diz respeito aos momentos de alegrias e tristezas compartilhadas ou solitárias, de choros e gargalhadas sem motivo ou lógica nenhuma. Trata de pequenos gestos, pequenos detalhes que traduzem significados magníficos. A vida em si está refletida na simplicidade de um girassol no jardim, na beleza das tardes de outono, no barulho gostoso das ondas quando se quebram na praia. Talvez a vida em si não consiga ser traduzida. Ela pode não existir.