LIMBO

Eu abro a porta, entro, olho os móveis, vejo se nada foi roubado. Nada. Me dirijo a cozinha, faço meu almoço, como sem sentir o gosto, penso nos problemas, nas soluções, na minha vida tão cheia de nada. Da casa pro trabalho. Do trabalho pra casa. O que isso tem de vida? Nada. Queria ver meus amigos. Queria jogar bola. O que eu faço? Nada. Olho os móveis, olho o teto, vejo a goteira e penso em chamar o encanador. Volto pro trabalho. Carrego as caixas. Empilho tudo em ordem. Orgulho do meu chefe. Mentira. Ele nem liga para mim. Pego minhas coisas, vou para casa. Arrumo os meus móveis. Passo pano no assoalho. Casa limpa. Tão limpa que me dá tristeza. Vou trabalhar. Vou empilhar caixas. Volto pra casa. Durmo e acordo cedo. Arrumo a casa. Como e trabalho. Olho o teto e penso nos problemas. Sem solução. Eterno vazio. Eu abro a porta, entro, olho os móveis e empilho minha vida numa caixa cheia de nada.

Endriu Costa
Enviado por Endriu Costa em 12/12/2018
Reeditado em 12/12/2018
Código do texto: T6525435
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