Faces
 

                            

 

Não quero lembranças do que não pude ser, não pude ter. Impedida de sonhar, sei, só aconteceu o que eu deixei acontecer, o vazio que às vezes me dá, não é nada mais que a minha sede de viver. Eu queria tanto que ao olhar para os céus, as pessoas vissem o que  eu vejo, sentissem o que eu sinto, queria que a vida pudesse abraçar cada um, assim como o amor me abraça e absorve os meus pensamentos, duma forma que só hoje sinto, com uma intensidade que me toma toda, até numa folha seca que cai. Procuro cores, encontro. É tudo tão verde, tão fresco, a brancura do algodão se estende no campo da minha mente. Queria que a vida fosse assim, e não fosse coisa da sua imaginação, queria que esse meu mundo pronto, fosse feito para todos, num alvorecer com  janelas abertas com vista para o encanto natural. Enquanto vou sentindo tudo isso, de olhos fechados, sem me dar conta se é noite ou dia... Cortinas simples, ao vento que passa resfriando plenamente a minha paixão. Olho ao meu redor, já não mora um desejo vivo antigo, apagou-se total a chama. Devo permanecer sonhando, mas, comigo mesma está a chave da felicidade, agora sou uma mulher acordada, ouvindo os pássaros, para acrescentar beleza à vida, no balanço dos galhos das roseiras presas, há borboletas vivas, e àquelas que inventei, carregam em suas asas um pouco da minha ilusão, sei.  A ilusão de que ninguém é infeliz,  se habitar o mundo que criei. Você é o que você quis ser, porém eu ainda não estou pronta, quero ser poeta sem poemas, quando ou se um dia eu crescer. Sei que não conseguirei mais, de tanto amor não vou morrer. Quero pensar que nunca estive sozinha. Não tenho pressa, que as horas passem, ou que a tristeza me esqueça. Quero deixar a vida ir, até acabar. Sei que com ou sem a minha poesia, a lua vai continuar à brilhar. Abrace o seu mundo, então, mas, saiba eu não faço parte dele, me esqueça, lembrando que eu amo a vida, não amo as suas duas, três, quatro, cinco faces e não escrevo para você uma linha sequer, o que escrevo são coisas do meu mundo, e se um dia voei em sua direção, foi engano, as velhas calejadas asas, bem fundo eu as cortei.

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 05/12/2018
Reeditado em 27/09/2024
Código do texto: T6519351
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