Primavera e inverno
Quando você chegou, foi como o fim de um inverno.
Verdadeiro ensaio para uma primavera.
Encantei-me com as primeiras chuvas do teu carinho.
Por elas, rompi o meu estar sozinha.
Teus olhos... Ah! Teus olhos.
Atingiam minhas águas mais profundas...
E quando cantavas.
Eu era a própria plateia que se encantava.
Todos os pássaros se calavam para te ouvir.
Meu Deus! Como resistir ?
Como resistir!
Eras para mim alma colorida.
Tal como a chuva que devolve a vida.
O teu calor era pura fagulha.
Verdadeira chama a reacender minh'alma.
Sim, você roubara a minha calma.
Lavou todos os meus medos,
ganhara os meus segredos.
Contigo redescobria o meu mundo.
Ter-te por perto, ah!
Era como fragrância aromática de vinho suave.
Quando ausente,sentia-me quebrada.
Quebrada como uma taça de cálice.
Afoita, dizia, é isso!Só pode ser!
Somos almas afins,
juntos por eras e eras...
Nada de um caso do acaso.
Não! Isso não.
Cega,atirei-me aos teus braços.
Fui tua prisioneira, e você, o meu primeiro.
Amarrei-me assim ao teu laço.
Teu nome era a chave.
A chave de minha prisão.
Já me via livre da solidão.
Por tuas mãos, em tuas mãos!
Dei-te os meus segredos como dotes,
arrisquei-me nessa sorte.
Fui a tua porta aberta. A tua entrega!
Era assim ou a morte.
Foi assim minha morte.
Sorte? Não sei!
Moravas em minhas cobertas.
Quebrava todas as minhas regras.
Entreguei-te a minha bússola de direção.
Fui só coração, só coração!
Somente tu me falavas, calavas-me!
A minha cabeça girava...
Meu Deus! Como eu te amava!
Perfeita foi a tua trama,
era você e minha cama.
E sem nenhuma suspeita,
acreditava ser tua eleita.
Tudo o que me dizia era, nós.
Um nós cego.
Dando sem nenhuma dó.
Fincaste em meu peito o teu prego.
Foi puro ego. Puro ego!
Pois tu me enganavas.
Enganava-me!
O tempo cobrou minha desilusão.
Lágrimas lavaram meu coração.
Tudo ficou assim tão cinza!
Vi o próprio sol se misturar a poeira.
Golpe triste desse meu destino.
Por que cruzou o meu caminho?
Ladrão de minha vida,
fiquei assim: tão sem saída!
Mãos hábeis à ratoeira,
cai por inteira. Por inteira!
E Como um conquistador barato,
fez pontes aos meus hiatos...
Tua indiferença tornou-se o próprio frio.
Assim, me atiravas a um rio.
Tal como um jardineiro da desilusão,
cortavas as minhas rosas por inteira.
Por inteira!
Como pode roubar o meu sono?
Pôs pedras em meu travesseiro.
Meu ledo engano,
meu desengano!
E feita louca,
afoguei-me na poça dos meus gritos.
Tristes lágrimas do meu inverno!
Presa estava a um labirinto.
Mas eu nadei...
Avancei contra a correnteza...
Dei tudo de mim, venci!
Cruzei as águas desse inferno...
E jogada a margem, vi você partir...
Partiu meu coração.
Se foi com a minha prima,
Vera.
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Primavera e inverno
Autor: ChicosBandRabiscando