LEMBRANÇAS PUERIS

LEMBRANÇAS PUERIS

Vem no vento, algum verso com cheiro de planta silvestre, como uma lembrança de minha infância, brincando com os meus irmãos no quintal da casa doméstica cimentado, ocupado por um banheiro, uma lavanderia, uma cisterna, pequenas plantas, e a cerca (antes de ser erguido o muro) limítrofe para a casa de minha avó, onde o quintal era repleto de plantas floridas, cujo olor vegetal agradável me chega agora, motivo reminiscente de inspiração desta prosa.

Não somente agora, através deste perfume vegetal trazido pelo vento, as lembranças pueris de um tempo passado me chegam, sendo que, eventualmente, em várias fases de minha vida até então, o vento andejo me faz relembrar de outros bons instantes infantis, mas não tão intenso quanto estas fragrâncias de plantas cultivadas na casa de minha avó, que não só adentravam em seu interior, mas também se espalhavam pelo quintal de nossa casa, onde brincávamos alheios às questões sérias do mundo ainda envolto em adversidades e infortúnios existenciais.

O vento tem um papel relevante em minha criação literária, como se fosse um porta-voz de minhas experiências vividas, arquivadas nos recantos da consciência criadora, que, trazendo-as à ocasião instantânea, me fazem relembrar do melhor tempo da vida carnal - o da infância - visto que, dentre alguns pormenores, devido a ingenuidade do corpo físico em formação, a alma nele alojada, comumente madura, pela experiência vivida em outras vidas, no entanto, nele se manifesta e revela o caráter aos poucos, conforme o desenvolvimento dos órgãos corpóreos, tendo o perispírito (o corpo fluídico), como o elo de ligação entre a vida física e a vida espiritual, e assim procederá durante a atuação da alma na vida encarnada, até que, por morte desta, ocorra o processo de desligamento definitivo do espírito e perispírito, libertos para a vida espírita desencarnada.

No conto as vezes, da ação do vento me trazendo diversos cheiros que me fazem lembrar de passagens de minha vida; todavia, quando ele me traz o cheiro suave mas penetrante e inconfundível das plantas ajardinadas que minha avó as cultivava no quintal de sua casa, é como se me convidasse a voltar no tempo, para me aprazer, revivendo deliciosos instantes pueris, que só a imaginação da alma criadora me pode proporcionar.

Tenho escrito muitos textos, tanto poéticos como prosaicos, mediante este recurso inspirador da passagem breve do vento. Às vezes, vem-me como uma lembrança de algo que me ocorreu na vida. Outras vezes, me parece que o vento me traz alguma mensagem de outra alma intuindo-me, para que, pela inspiração, eu desenvolva algum texto literário. E esta prosa, por exemplo, só pôde ser escrita, porque, enquanto eu olhava a esmo para um ponto qualquer no quintal de casa, no início da amena manhã, o vento andejo passou, e mesmo tão breve, como sempre faz, me deixou o aroma agradável das plantas floridas que a minha avó as cultivava com tão boa vontade no quintal de sua casa, no tempo inesquecível de minha infância.

Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 30/11/2018
Reeditado em 05/12/2021
Código do texto: T6515690
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