Nudez se faz vestir de pele e calor

Noite desceu escurecendo cores e dando pouco a pouco, vida ao silêncio. Nas portas das casas, encostou a solidão pedindo diálogo com as tábuas. Na noite tudo tenta se proteger. As luzes denotam realezas da miséria. Cada lâmpada luta com pedaços de escuros até o amanhecer.

As ruas são saudades, maldades, encontros e separações. Um tanto de bares, lares; um pranto de boêmios, lunáticos. Um tanto de calçadas, beiradas; um canto de vazios com cheiros e receios. O vento brinca com sacolas plásticas e papéis rasgados, depois foge indo excitar folhagens nos jardins. Automóveis deslizam, parecendo fugirem de alguma coisa, deixando curvas nos retrovisores.

O tempo sem esquinas ri dos ponteiros obrigados a girarem; E nada conta de horas. Tão somente passa apático e ao mesmo tempo em que ama a noite, a trai, varando madrugada em busca do dia. Tantas canções se fazem ouvidas nos movimentos solitários, que os becos da alma, gritam por pressa. E regressar para casa se torna luta contra o medo na cidade esvaziando-se de pessoas na rua. As estátuas, na imagem petrificada, apenas traduzem homenagens rendidas, ou, tão apenas, arte inventada.

Em casa, pelas frestas da janela, as persianas sensualizam sobre encostos de sofás na sala, ou a meia luz em cabeceiras de camas em quartos, preparados para descanso e amores. Mistérios se fazem nos esconderijos secretos dos desejos. As audácias se revelam em atitudes impensadas e outras vezes, nas mais sonhadas durante tempos. Noite serve jantar de gala para quem degusta de amores insaciáveis e verdadeiros. E nas pequenas aventuras, o momento se faz vivido à maneira como se dá.

Mas de fato, toda nudez se faz vestir de pele e calor, quando se tem amor.