Alimentos da Alma
Hoje me recordo da primeira vez que pesquei sozinho com meu pai.
Estávamos com fome na noite, ele acendeu o fogo e preparou a brasa.
Ainda não havíamos pescado nada, mas ele preparou tudo como já tivéssemos o peixe.
Então repentinamente algo pegou a isca.
Lutei bravamente com aquela força e ele me orientava com fazer.
E depois de instantes de luta intensa o brilho prateado sob a luz do luar se revelou.
E para minha alegria, havia pego um belo peixe.
Empolgado dei-o nas mãos de meu pai.
Ele perguntou se eu iria devolver ao mar.
Então sem entender eu disse: - não, vamos comer, estou com fome.
Papai sentou-se com o peixe nas mãos, olhou para ele, olhou em meus olhos e disse:
- filho, as vezes Deus confia a vida de outros em nossas mãos, assim devemos ter a árdua missão de decidir o que fazer com essas vidas, cuidar e proteger, guiar e ensinar, mas certas vezes devemos deixar que os outros se vão, mesmo que isso nos faça sofrer, mesmo que nos cause dor e fome, mas a dor que carregamos é pequena diante da liberdade que o outro tem tanto apreço.
É sua a responsabilidade que os outros não sofram por sua causa, mas não é sua que elas sejam felizes, pois a felicidade depende de cada um. Não faça ninguém sofrer jamais.
Filho, Deus te confiou esta vida, este peixe é seu, decida você.
O que vamos fazer com o peixe?
...
Sem nada dizer, peguei o peixe de suas mãos, levei até a água e agradeci, pedindo perdão, o soltei.
Sentei ao lado da fogueira me encostei em papai e ficamos a noite toda pescando, sem iscas no anzol e sem nada mais dizermos.
Não mais senti fome por toda vida.
Rogel Escoffeir
Em memoria do meu grande Mestre Papai.