MEIO-MURO

MEIO-MURO

Sentado no meio-muro de antigamente, espero o chamado que não vem. No ar o cheiro de maresia de mar próximo, em ondas de solidão. Súbito, levanto e ando sem destino, sem querer, estou na praia.

Beira-mar recebe meus pés, que logo se apagam, a gaivota voa e eu com ela, rumo ao horizonte distante. O suor brota salgado, tal qual as infinitas águas, nas quais mergulho e me higienizo. Corpo lavado, alma suja, volto pelo mesmo caminho e nele não me encontro. Cabeça baixa percebo a espuma das ondas que se esvaem e eu querendo sumir junto, para qualquer lugar, que esconda minha sem fim inutilidade. O meio-muro me espera, me chama, um único chamado, sento-me qual antigamente...

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 20/11/2018
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