"Duelo (intro)"

Eu só vejo o escuro, sem qualquer possibilidade de condução: paro, respiro e choro. Meu choro me satisfaz, alivia-me a alma, enche-me de vontade. Mas ainda sinto medo do escuro, tateio à minha volta, nada sinto. Nada ouço. Nada vejo.

Contrição penosa, dor contida a arrebentar o peito ainda desnudo. Crueldade tua! Não, eu não quero o seu perdão, quero apenas o seu afastamento. Quero me manter distante de tudo que me causa êxtase, de tudo que me conduz ao mundo fantasioso, pois a volta delibera minha sina. E eu sei muito bem o meu devido lugar.

Não devo ser justa com meu coração, fere-me intencionalmente ao agir em legítima defesa, não pensa em mim, que o sustenta a duras penas.

Chega! Não quero falar de Amor, quero falar de coisas que são alheias a qualquer sentimentalidade. Volto à minha escuridão, minha desmedida companheira. Aterroriza-me com sua face negra, medonha e sedutora. Eu a desafio, calamitosa!

Venha! Cá estou de peito aberto. Enfrento-te mesmo que for para te reverenciar. Mas não lhe nego minha batalha.

Não intimidas os ventos gélidos que me toma. Não me repele o toque viscoso de sua pele. Não me seduz o seu cheiro ocre.

Curva-te diante de mim, lasciva moribunda! Eu sou aquilo que você chama de: fim!

Encara-me de olhos abertos, não me subestime. Redima-se diante da minha luz, Sádica cruel.

E quando novamente cruzares meu caminho, acenda sua Luz e deixe vê-la como realmente tu és.