Sensibilidades e desabafos

Penso Sensibilidades e desabafos :

Há um rio cujas águas mudam o movimento e direção. Não se pode ouvir as águas ao fundo que corre na direção contrária ao que parece na superfície . Peixes anunciam aos barcos atracados que é possível chegar a outra margem. Numa diagonal cujo trajeto se dá mais esforçoso e alongado entre lua e sol. Nem lua nem sol. Depois das chuvas. No cair agonico da noite. No parir atômico do desaparecimento. A terra amalgama - a memória de - seus ossos, reúne paliçadas e, marcha em voraz silêncio. Uma mulher vocifera luciferana e sangra quarentena limpando vestígios de dor, perdas, prisões, abusos, algemas, morte do ver sob amonias, quarto -frio-forte, choques, balas de borrachas, ...pimentas, . Cruz e flor nas encruzilhadas dos séculos mapeiam a trajetória fúnebre e apontam para o mar. Não ha mais acampamento para o passado. A transgressão é que abre o mar. Mais que resistir. Avançar. Com dentes-de-sabre. Em cânticos de amor, angola e Bach.

Então...

Baleias sobem à superfície.

Sépias arrastam navios e aviões ao fundo mar.

Éguas noturnas sobem dos oceanos. Revisitam litorais, estradas, cancelas, faróis.

Cavalos, cães, morcegos lancetados nos ares. A boca da escuridão. Emboscada de serpente. Covas de crianças mortas vivas. Se levantam em chamas gritando suas mães.

Foice nos dentes. Na língua, o poema em riste.

O fantasma se fantasia de terra e céu. Esquecido que mar tranquilo também é perigoso. E com as visceras em putrefação. A múmia esboça movimento. Mas o que se levanta é o gigante pela própria natureza.

Alessandra Espinola

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 08/11/2018
Código do texto: T6498013
Classificação de conteúdo: seguro