O ABISMO.

A minha alma parece vazia, inexistente vagando no nada. Talvez haja um abismo em nim.

A minha alma está inquieta agora, entre dissabores uivos e gritos. Talvez seja esse o abismo em mim.

A minha alma ficou confusa de repente, ninfas passeiam por aqui. Talvez já seja elas o abismo.

O meu coração, da mesma maneira, vaga inquieto nas desilusões desta vida murcha, sem cores, sem perfumes, sem beleza alguma. Talvez seja a vida o abismo.

O meu coração sentiu o soprar impetuoso da tempestade, e nesta tarde estranha, andarilhos esquisitos aproximam-se com ferocidade da torre. Talvez eles, sejam o meu abismo.

O meu coração não sabe o que deseja, querendo às vezes uma coisa, quando no instante seguinte desejam outra, e assim prosseguem sucessivamente. Talvez eu já esteja neste abismo.

Eu não mudei…

Sou o mesmo prisioneiro de sempre, enganei-me achando que era o que nunca poderei ser.

Eu não mudarei…

Serei sempre uma ave, de penas reluzentes, de asas longas e coloridas, entretanto, acorrentada na velha torre de cristal.

Eu não…

Lá, no reino encantado, passeiam transeuntes ambulantes, com o caminhar vacilante, vagando desesperados sem perceberem que são o próprio desespero e o abismo de tantos outros.

Os dias se fazem cansativos, tudo se faz lento, se faz rápido, em silêncio, às vezes em barulhos irritantes e repetitivos. Sou um marinheiro a deriva no mar dessa vida. Levantou-se outra tormenta, golpeando o meu barco de todos os lados, intensificaram os ventos, raios e trovões ao horizonte, à deriva, sem remo, sem destino, eu vou a passos largos ao abismo do silêncio absoluto.

É apenas mais um dia, início morto de um desesperançado novembro.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 03/11/2018
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