DIA DE FINADOS

Era dia de finados.

E eu estava debaixo de uma árvore que até hoje mantem suas raízes fixas na entrada do terreno santo, onde os restos mortais de muitas pessoas silenciosamente de decompõe.

Alí no frescor da brisa eu observava as pessoas fazendo visitas entre túmulos e corredores apertados do cemitério não muito grande da minha comunidade de orígem.

As pessoas iam e vinham naquele sol estridente.

As mulheres se protegendo do sol com sombrinhas numa mão e flores na outra.

As mais piedosas colocando maços de velas para queimar na intenção das almas.

Toda aquela gente olhando o que já viram várias vezes.

Cada uma ao seu modo, observavam as lápides de pessoas que elas conheceram e agora jazem os restos mortais encofrados debaixo daqueles túmulos de mármores, ou de pisos de cerâmica, ou de barro mesmo e até algumas covas afundadas no coração da terra.

Até para a decomposição do frágil corpo do ser humano há uma hierarquia social.

Tive a sensação de que as pessoas pareciam ter certa certeza de que os seus entes queridos estavam ali dentro daquelas caixas de concreto.

Muitos faziam sinal da cruz diante dos “retratinhos” dos falecidos.

Quase todos deixavam flores e alguns até choravam a ausência de quem recentemente tinha entrado em uma daquelas catacumbas.

O mais significativo foi que muitas pessoas refletiam o sentido e o milagre da vida, mesmo que sem falar nada, além de saber que estavam diante de um mistério nada desvendado por Deus.

E mais, com a certeza da inevitável chegada àquele lugar um dia.

Eu percebi que as pessoas na realidade não tinham medo da morte e sim do desconhecido.

Finados, mistério, é o sentido da vida, a rapidez da passagem.

A vida é muito curta para ser pequena.

É isso aí!

Acácio Nunes