Olhos que falam

Olhos que falam.

Peles que ouvem.

Braços que se conhecem.

Medos que se reconhecem.

Sonhos não mais coincidentes.

Sonhos que surpreendem por sobreviventes.

Ferozes minutos de reconhecimento sensível.

Heranças de toques, valores, atitudes e expressões despercebidas.

De repente, desconhecida, instantânea e inesperada valentia frente à assumida indisponibilidade para a tentativa.

Foge-se da superficialidade da qual é espectadora incessantemente. Foge-se de um mundo, onde nem mesmo a essência do romantismo moderno - se isso não se tratar de insustentável contradição - é capaz de encontrar argumentos efetivamente convincentes para defesa.

Inexiste dificuldade de identificação, creio. Sabe-se de algo importante, relevante, mas a realidade talvez traga sua lógica, seu bom senso e, por fim, sua voz dificilmente se fará ignorar.

O ser humano perdeu os olhos e a força para as sutilezas do amor verdadeiro, invasivo, completo e de músculos generosos.

A intensidade perdeu a semântica - hj preguiçosa - passando a identificar-se somente com o imediato, explosivo e irremediavelmente passageiro. É finita.

Por vezes sentimo-nos como defronte ao cadáver na espera absurda e inútil por um suspiro que demonstre vida.

Aprendemos força inimaginável para sermos sós e felizes. Verdadeiramente felizes.

Força talvez incompatível com o amor. Mas se milagrosamente acontecer de fato este suspiro e a vida for recobrada. Se então minha mão lhe transmitir a energia necessária para que se ponha em pé, e, em algum momento, até ande por conta própria. Se assim o for.

Que venha.

Único, portanto, especial. Carregado de seus requisitos. Seus detalhes. Seu poder. Sua pele. Seu suor. Seu fervor. Seu pavor. Seu torpor. Seu menor. Seu maior.

Meu amor.