Balada do Cavaleiro da Solidão
Eis que venho com meu fiel ginete de terras ignoradas e de tão longe, mostrar-lhes em nesses versos de sangue a tristeza que carrego sempre. Não reparem, é tudo que tenho e que posso mostrar.
No mais, eis aqui essas rugas que o tempo me presentou e as minhas lágrimas, dois rios que seguem em direção ao nada. Passo horas me frente ao espelho, não por vaidade, mas para ver se descubro respostas para algumas envelhecidas perguntas: onde estarão todos que um dia amei? por que a morte os levou com seu vento tão frio? e os amores que tive? ainda existirão em alguma dessas pesadas nuvens?
Eis que fito com o coração aflito velhos moinhos. Novo Quixote que sou de passados tempos, só consigo ver a maldade de muitos, as novidades insanas, as pedras de castelos desmoronados que fazem das grandes cidades antigos depósitos. Depósitos de que? Do lixo que fazemos ao decorrer dos dias e que dia desses nos sufocará...
No mais, não encontro mais nenhum dos carnavais como aqueles, em que um menino se vestiu de palhaço e riu de tudo, usou todas as cores do mundo para mostrar tudo o que queria, e que afinal, hoje não quer mais.
Me preparo para abrir a porta da gaiola de todos os pássaros, também abrirei a porta dos sanatórios para que de lá saiam os seres mais sensatos que a natureza criou. Não sei, sinceramente, qual o preço de tal risco, mas é esta a minha empreitada.
Talvez os meus versos me protejam, aclamados pelas multidões ou silenciosos num canto de escura caverna, tanto faz. Meus versos, meus versos, meus versos, amigos inseparáveis, filhos de minha grande amada, criações do louco cientista que sou.
Eis que o trotar quebra o silêncio da amortalhada noite, perturba o silêncio pelas madrugadas e espera um novo dia que virá aos poucos com seu punhal rasgando a escuridão. Aí sim, com o começo de uma nova manhã, poderei te encontrar, minha amada que ainda dorme o sono passado...