nausência








     Chego na cidade ao sol se despedindo. Passo a desandar pelas calçadas, outrora cansadas de meus passos. Elas, há muito, me esqueceram. Vejo muitos rostos novos desferindo velhos desejos, sorrisos, frustrações, lágrimas e medos. Ainda se divide o vinho no meio-fio. Algum carinho, em meio ao frio. Há mais caídos, há mais perdidos. Andarilhos e vandarilhos se confundem. A lua aparece e parece querer renunciar. De repente, me vejo em um beco. Dá vontade de chorar. Logo dele saio, pois minha solidão ali poderia ser encarada como ameaça. Sigo passando pelos rostos. Alguém diz me seguir no Instagram. Uma garota jura ter me visto no palco. Um sujeito me oferece um gole de conhaque de alcatrão. Agradeço e vou embora. Não quero atenção. A noite vai ficando mais negra, deserta. Porém, não há escuridão maior do que a que há dentro de mim. Aceno para um táxi. Ouço uma voz feminina me chamando pelo nome. Entro no carro e o taxista pergunta praonde? Vejo o rosário pendurado no retrovisor e respondo: para o fim.


 

05/07/2014