CONVULSÃO DO TEMPO

Ela esvaziou a mente por um tempo, não se sabe, se por efeitos de drogas ou pela ausência de si, mas era preciso ururbanizar os voos e digerir toda a carniça que decompõe as vísceras de olhos amargos dilatados pelo ódio da mudança.

A mudança é sempre fértil demais para um solo árido, mas também é o caos de uma voz silenciosa que pulsa a comezaina dos medos.

Ela não sabe que dia é hoje, mas está em uma sala de escritório, contando as horas para mais um vinho bordô, comprado em um quiosque de parada de ônibus direção a São Paulo. O quiosque ficava em rua de armazéns, cercada por antigos cabarés na cidade com os picos mais altos do mundo. Na realidade não era um vinho bordô era um Padre Cícero que abençoa cada gole com uma dor no buraco do estômago, mas ela imaginava ser o melhor vinho que podia ter naquele momento para acordar suas despedidas e voltar a caminhar como quem grita na felicidade de ver estrelas cadentes.

Pensava em todos os seus amigos, em cada sorriso, em cada lágrima e agora pensava cada vez mais no olhar do desespero, o medo do que vem pela frente como avalanche de areia no deserto que cega os olhos dos mais imaturos beduínos.

Ela não podia deixar a miragem enganar com falsas sereias, caminhar no deserto é descobrir a fonte de água em si, purificar a sede ao contemplar uma noite fria de um céu povoado de sonhos.

São esses sonhos que ela traz de volta...

Já não sentia o gosto de um bom Padre Cícero, já não sentia o sorriso dos próximos, já não sentia o calor da voz, tudo era ausência.

Mas ela escolheu ficar, mas ela chamou eles para ficar, mas ela propôs resistir.

Sem pensar muito bem no que dissera, propôs um acordo: Sob o sol escaldante de um fim de tarde alaranjado, as nuvens pedem abrigo no azul, so lhes peço que torrenciem o olhar para mata verdejar é a mudança de mais uma estação.

Por mudar demais, ela evolui, pois sendo caos ou fertilidade, suas folhas sempre voltam a brotar depois do abraço do mundo que vem de si, pois nela está a convulsão do tempo para nos fazer sorrir.

Yana Moura
Enviado por Yana Moura em 11/10/2018
Reeditado em 11/10/2018
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