Ao despertar

Um dia despertará em outro céu

planando como pássaro liberto.

Não voe muito alto para não perder as penas

que nasceram entre pequenas plumas.

Nunca esqueça o ninho que o abrigou

Os amores que deixou o que aprendeu,

Ensinou, ganhou e perdeu...

Dos olhos que viram o mar

Das mãos que o tocaram em carícias

Das lágrimas derramadas na terra

cultivada de seu rosto.

Dos poemas sangrados

Das sinfonias ouvidas

Dos braços que abraçaram

Dos olhares trocados

Do corpo que o encobriu

Da chuva que lavou as angústias

Da noite que o levou em sonhos

ao amor inesquecível...

Do sol em gritos na manhã radiosa

bocejando aroma de pão

Da saudade que nunca entendeu

Do amor sem explicação

Da solidão sem sentido

Da última dança envolvida em calor...

Dos passos que o levaram a lugares

impossíveis de esquecer...

Quando voltar em alto vagido recomece

sem lamentos agradecido por despertar

em seio amigo...

Marcia Portella

( 2017 )