BATIZANDO O DIA
Ysolda Cabral
Quando a Poesia me abandona me sinto só, extremamente só. Não sei como isso acontece. Mesmo sabendo que ela circula por perto em algum lugar a me espreitar, desafiar, desatinar... Talvez faça isso para saber como eu consigo viver sem ela. E o vazio se faz de forma tão intensa, tão intensa que o Mar não passa de plano de fundo na minha janela; o Sol, se torna um holofote poderoso no meio de um estádio fantasma, em desuso, e quanto a Lua, tadinha dela, tão linda na imensidão do Céu a me lembrar uma velha alcoviteira, cansada da luta a perambular trôpega, a mercê de jovens e caprichosas nuvens.
Ah! E quando amanhece, o canto dos passarinhos eu não escuto como o mais belo Concerto Matinal e sim como quem escuta o ''cuco'' inconveniente de um antigo relógio, pendurado numa parede de galhos, molhada pela noite fria, pois orvalho não existe nem quando choro com dó de mim.
Quando a Poesia me abandona a solidão é tanta que perco o sorriso e a Vida se torna um fardo tão pesado, tão pesado que não há reza, com ramo de arruda e água benta, que dê jeito. - Como dói um abandono desses e sem nenhuma explicação!
Mas, de repente,''não mais que de repente'', ela volta sorrindo para mim, através do sorriso inocente e belo da minha filha, como se nunca tivesse ido embora. Então volto a me encantar com o Coral dos Passarinhos, toda orgulhosa de ver o Mar deixar de ser espelho da majestosa e vaidosa Lua para receber, todo feliz, os Raios de Sol, da Aurora que, acalenta o Dia recém-nascido, que não chora, apenas boceja preguiçoso... - O batizo de Soneto.
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Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.
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