É que as noites descem depois de cada dia
É que vai descendo a noite pelas cordas estelares.
Fica suspensa, balançando, tocando os pés no chão.
Despeja mistérios em cantilenas e orações nos campos distantes;
E nas cidades incita o lavor de luzes. Em maestria, o solfejo do silêncio, na pressa de cada um voltando para casa. E na partitura em clave de sol, o grito dos instrumentos da alma, em sinfonia descompassada pelo receio de andar nas ruas desertificando-se. A noite tem a mania de despir os crimes e esconder os gestos amigáveis. Muito mais escura do que ela, são as pessoas de má índole. Por isso tantos muros na pele das pessoas, visto que a violência avança sem escrúpulos, assolada pela aridez da impunidade. A noite abriga ao relento, quem passa fome; e assiste sonhos nessas pessoas, porque os olhos famintos dispersam atenção, voltados para os cantos, para as pessoas que passam tão alheias a tudo, mas tão integrantes de todos.
Meninos dormem e acordam meninos, só que mais vazios do que antes. Fatias de madrugada são cortadas na mesa da desesperança.
As drogas assassinam sem piedade.
As mães choram seus filhos, a nação usufrui de suas máscaras.
A mídia gera dinheiro, contando desgraças. Interessante que assim como a noite, as pessoas assistem e acham absurdo, comentam, mas, nas noites que saem de casa, ou regressam para ela, vão apressados, envoltos em si apenas, porque a sociedade é egoísta.
O ser em si é egoísta e de quase todo, covarde. Não por ter medo, mas por não se permitir ajudar ou doar ajuda.
É que as noites descem depois de cada dia... E descerá em cada ser e só saberão do dia em si, quando fizerem o bem,forem solidários, ao invés de somente passarem em frente ao particular de cada um que sofre.