A PENA E A LUZ
Já era tarde.
O silêncio só era quebrado pelo trepidar sem nexo do fogo de uma vela pálida.
Era uma Luz triste, ladeada de sombras em movimento. Apareciam figuras, pareciam fantasmas de vidas passadas, almas torturadas pelo esquecimento.
Eu não tinha medo, pois tinha comigo um alento:
Uma Pena.
Ela era minha testemunha, minha confissão, minha companhia.
A Pena entrelaçara em meus dedos como se fizesse parte da minha carne.
Ela começou a deslizar pelo pergaminho, por caminhos nunca visitados.
E, de repente, o que era desconhecido tornou-se norte, tornou-se o caminho de volta para casa.
As sombras tornaram-se familiares.
Ainda fantasmas, mas não mais tão assustadoras.
Agora pareciam dançar com a melodia causada pela Pena ao tocar o desconhecido.
A Luz parou de balançar.
Ficou perplexa lendo a história contada pela Pena.
Não sei mais se a Luz ficou triste ou aliviada.
Mas ela me pareceu mais nítida, parecia saber que ainda fazia sentido 'esperançar' com os caminhos que nos levam de volta para o que criamos.
A Luz nos mostrou sem pena que somos criaturas, mas a Pena nos mostrou com luz que também somos criadores.
E assim, a Pena se fez Luz!