Madrugada insone
Madrugada rompe serenamente nos portais do silêncio e escorre em toques sombrios, pelos cabelos das estátuas emudecidas, adornadas de limos de saudades. Pedras em desordem calçam sulcos das lástimas, confidenciando segredos e prantos. Rolaram pelas ribanceiras da tristeza e polidas pelo sofrimento se fizeram em formas cicatrizadas.
As horas passeiam pelos círculos que demarcam o tempo;
vão namorando numerais.
Insônia é mesmo assim, nas imagens se fazendo, depois se desintegrando. Pensamento voa dimensões e pousa somente para cultuar luares pelas frestas das nuvens. É como viagem em trilhos abandonados, sentindo essências de flores despetaladas e ouvindo diálogos do vento com os uivos, que proporcionam sua passagem no tempo. São lamentos, pedaços de cenas, em cortantes dores sentidas e de amores vividos intensamente.
Páginas amarelas na estante da biblioteca dos sentimentos, cheias de poeiras, onde o leitor, são os personagens folheando histórias, sem nada leem; sem se encontrarem em nenhum capítulo. São veredas para se rolar na cama, mesmo sem cócegas e sem unhas e mordeduras. A quietude acalanta os lugares lá fora.
Enquanto uns dormem de conchinha, em meus cílios se dedilham canções pingadas do teto. Há um solo de violão, anunciando a manhã que vem puxando o sol pelas mãos. Correntes de fantasmas se aquietam na imaginação daqueles que tem medo. Muitos sonhos nos sonos acontecendo. Hora de levantar, pego bocejos e vou logo lavar o rosto. O orvalho se espreguiça no peito das folhas no jardim.