Amanhecer Paranoico

Ignorando o horário levanta-se e caminha rumo à janela, respira fundo e requenta o café despreocupado. Sentado à mesa pensa e some rumo às infindáveis possibilidades de seus sonhos que outrora terminara porém remoía o fato de não tê-lo aproveitado como devia, voava toda noite com maestria sobre surreais visões de sua sedenta imaginação, lúcido apalpava o infinito e desmontava o universo ao seu redor sorrindo em gritos enquanto tudo derretia como assim desejara.

Torna a mirar o longínquo horizonte tateando o calor da xícara, contando os dedos indagado da tamanha distancia sem distorção que sem cansar os olhos observa, fita e encara; seria seu o mundo que rodeia-o, seriam quem os passantes na rua ao lado que ouvia sem saber se ali estavam de fato, paranoiado corre para o quarto e se esconde na cama. Treme e trama o voo que não ocorre e o trauma traz e matiza-o de desespero à tagarelice que balbucia suas desfronteiradoras e sábias palavras de fuga e despertadores feitiços elucidantes que por desconhecido empecilho trava-o trancando suas brechas de tenras

escapatórias a um ponto inalcançável do pulo, do salto, do voo falho.

Silêncio, silêncios perturbadores, o disparar do coração faz-o perder o folego e transpirar, agora enfiado debaixo da cama teme o chegar de alguém, teme ouvir passos vindos do chuveiro, talvez da cozinha, teme ter deixado o café à vista de todos que logo descobririam da sua presença e fariam aquele escândalo ao caçarem o intruso. Remói a remota chance do alçar voo, derrubar as paredes, jogar para o alto a cama e seus ocupantes sonolentos, Silencio! Alguém pode de fato ouvir sua ofegante respiração amedrontada e gritar, assustando-o de tamanha grandeza a fazê-lo ter um ataque, de pânico, grito, choros, respiratório,

cardíaco.

Socorro!!!

Ai, arrasta-se habilmente para a porta e corre pelo curto corredor, joga-se por baixo da mesa, por cima do sofá, rola em cambalhotas até a porta, pára e treme.

Com muita cautela vira-se lentamente e olha para traz, o suor escorre pelo rosto e pulsa com a forte batida do coração que faz saltar a camiseta, tum tum, como um alto-falante, alto, elevado, caindo... na real, é só o despertar inquieto do solitário vivente que teme o prosseguir das caóticas experiências diárias trancado dentro de casa feito uma barata. Teme tanto estar acordado quanto o fato de não possuir controle sobre seus lúcidos sonhos.