da Garganta ao Cosmos

Esvai-se o tempo paralelo aos precipícios

seus passos ressoam pelas paredes e correm para longe

ouve-se nada

De olhos escancarados e pernas bambas

cai

fita o esvoaçar das areias no céu crepusculoso

esfria

A noite vem chegando aos poucos

sua anunciação provoca espanto

medo

A possibilidade cada vez mais real daquela garganta vir a tornar-se

a sua tumba

seu eterno descanso

repouso

sem lamúria

de um cadáver que aos poucos derrete

calmamente

sendo apreciado com elegância pelos vermes

de outrora

e sempre

A noite

sem os ventos

traz o ensurdecedor silêncio

que até conforta

O céu

super estrelado

surge na fenda

que se estende por cima dos olhos

Como se estivesse frente a frente com um rasgo na imensidão única do espaço, numa brecha para as estrelas, distantes luzes a vagarem violentamente pelo negro esplendor entre as galáxias emaranhadas nas teias do cosmo. Leve, separa-o do chão flutuando hipnotizado pelo infinito espaço celeste conduzindo seu espírito elevado para além do cânion , para além do vale, percebe-se afastando de si seu mundo deixado para traz, pronto para abandoná-lo à própria condenação. Vai para o eterno abismo escuro onde o mundo ainda está a cair, cercado por distantes pontos de luz flutuando no vazio.

Torna-se ausência...

some

Enquanto seu corpo o perde de vista mergulhando entre os astros, deixa de sentir, morre o tato, olfato e paladar. Como uma pedra qualquer, ignora sua dureza e passa a afundar na areia levando consigo a insensibilidade fria para o passeio petrificado de quem nunca sai do lugar. A partir de agora é vaga lembrança de si, aos muitos esquecida e mil vezes fragmentada em poeira de olvidamento.