Ressoar Matutino

O que eu seria se não fosse gente? Queria estar lá para ver, quando o Criador decidiu gerar o ser humano. Vai que presenciasse, sem chance de resistência, a soberania da Suprema Vontade, arquitetando fazer tudo que imagino ter intencionado, o querer nos fazermos incompletos, deixando a finalização da obra feita aos mandos e desmandos da própria vontade nossa, que em potencial deverá terminar o serviço. rumo ao perfeito.

Esta Força Suprema incognoscível, que move eu e o mundo, o Universo e Multiversos inimagináveis, me deu ouvidos para ouvir, boca para fala e comer, cérebro para pensar, mãos para apalpar, pegar, sentir os outros apetrechos da natureza, e as pernas para seguir donde quisesse, incluindo inteligência ilimitada para arrumar jeito de ainda ser, mesmo sem a saúde do corpo.

Sei lá! Estranho! Tento imaginar com tendência à entender ser benéfica a vontade que intuo ter a Fonte Suprema. Quero me convencer de que esta força criadora primeira, tenha podido deixar exclusivamente reservado a mim, a escolha, de que uma vez viva, optar por fazer ou não, conviver ou não, ser, viver ou não. O livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal, o ideal do perfeito, o amor, que pode ser nem lá, nem cá.

Mais fundo agita nesta mente barulhenta, o fato de que incontestavelmente existe algo mais imanente, pronto para uso, algo escabroso, de fácil constatação e acesso, os sentimentos conhecidos da tristeza, da angústia, da ira, da dó, da insegurança, da mágoa, daquela cruel sensação de ser uma obra bichada, exposta à doença, às frustrações, às perdas, à implacável certeza da morte.

Isso dói! Como dói! Insiste diariamente me arrastar ao convencimento de que eu e tudo é finito. A finitude de tudo é tão real, cheira inquestionável, me tornando invisível.

Em meio ao fogo dos dias, neste fazer instantâneo que meu Eu transita, sendo joguete de tantas emoções e sentimentos inconstantes e impalpáveis, me chama a brisa de uma outra experiência, um quê de acolhida ilimitada dentro, como fosse ponto zero no coração, que insiste em me alertar, calma e pacificamente, de que tudo passa, tudo irá passar.

Que o mundo gira, e há tempo para tudo, não somente o nascer, crescer, envelhecer e morrer, como também o começo, meio e fim do sofrimento.

Essa linguagem subliminar não dita, passeia em meio a tanto no peito, faz meu olhar ficar para frente, mesmo que queira fugir a força, a gana, a esperança, a vontade de abandonar o remo, aí que me agarro nele. Me faz continuar na luta dos dias, cultuando o estado da aceitação amorosa de algo dentro de que está tudo caminhando como deveria, que dará tudo certo. Não estarei nunca só nas escolhas, mesmo que haja quedas e tropeços.

Certa estou de que não estou só, não estamos sós nesta experiência na Terra.

O equilíbrio no juízo chega, junto, a fé na vida, na geração que nos sucederá, no amanhã que está em algum lugar do futuro com a dignidade e fraternidade que merecemos enquanto ser humano, e sociedade, a ser entregues como troféus a nós.

Isso que me visita, não encontro nome, sentido, significação passível de ser provado, a não ser a convicção de que foi Aquele que me Criou.

Se não posso traduzir, digo que é o amor em primeiro e último grau, amor incondicional que me deixa ser livre. Algo infinitamente grandioso, sem causa, nem origem.

Se existem regras estabelecidas por Ele nisto tudo? o nascer e morrer responde.

Vamos à luta.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 12/09/2018
Reeditado em 14/09/2018
Código do texto: T6446456
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