Memórias
Hoje minha mãe retirou do fundo do baú uma lista que ela fez desde o nascimento de seu primeiro filho. Setenta e quatro anos se passaram, e a medida que iam nascendo ela ia registrando numa folha de papel. Interessante é que ela tem na memória todas essas datas. Nós não, nós nem sabíamos que essa lista existia. Eu nem sabia que tenho uma irmã chamada Maria e outro irmão chamado Manuel. Por ser espírita e acreditar que a vida continua, eu digo que tenho, pois estão vivos. As gêmeas não deu tempo colocar nomes. Esse fato me fez lembrar o Museu da Quinta que pegou fogo. Tudo que estava ali dentro ficou registrado na memória de todos aqueles que tiveram oportunidade de visitar, de todos aqueles que valorizam a arte e a cultura de um país, dos historiadores, dos pesquisadores, enfim, de todos aqueles que dedicaram anos de suas vidas pra manter uma história viva, pra aqueles que estão por vir pudessem ter acesso também. Mas não, nossos filhos e netos só vão ouvir falar de como era e como tudo se acabou.
Ah! Mas a listinha dos seus 17 filhos, mãe guardou com todo cuidado no museu dela. Não aconteceu nenhum incêndio, não teve descaso de nenhum governante, e nós hoje tivemos o prazer de ter acesso a essa relíquia. E vai continuar guardada para as futuras gerações. Será que ela só abriu essa folhinha de papel 17 vezes? Com certeza não, sempre estava lá admirando seu feito. Em cada anotação acredito que tenha dito: _ Mais uma benção que Deus me deu.
Hoje olhando essas anotações, fiquei só imaginando. No dia 25 de abril de 1961, mãe estava lá registrando a minha chegada. Gostei muito de ter visto isto. Muito mesmo! 
Nós não ficamos famosos como o crânio de Luzia, mas temos certeza de que somos o maior tesouro de dona Creusa Couto.

 
Élia Couto Macêdo
Enviado por Élia Couto Macêdo em 11/09/2018
Reeditado em 18/09/2018
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