O CAÇADOR DE BONECAS
Passo lento, olhar distante,
Meio cambaleante, seguro as mãos dela,
Desço calmamente os degraus da escada
Com a doce criança minha cinderela.
Inquieta queria que atendessem o chamado
Pois havia perdido sua boneca preferida.
Nessa Silva, nome e sobrenome
De uma das suas filhas que havia sumido.
Motivo suficiente para a grande aflição.
Implorou a mamãe, o titio e a vovó
Mas ninguém teve dó e lhe deu atenção.
Foi aí que ela lembrou-se do herói favorito
E naquele momento foi chamar o vovô.
Com lágrimas nos olhos coração sentido
Falou bem baixinho: " vovô vem cá.
Eu peciso falá com você uma coisa...
É um seguedo, você pode me ajudá?".
Olhei aquele anjinho assim cheio de graça
E com todo carinho quis ouvi-la depressa
Peguei-a no colo, aconcheguei-a no peito
Sorrindo me beijou, assanhou meus cabelos
Ativou meus neurônios, coração bateu forte.
Eu que jogara bola de gude na infância
E na juventude sempre tive esperanças
Não imaginava que depois de ser pai
Eu seria avô de tão linda criança.
Naturalmente encantado ganhei o dia
Me enchi de alegria, resisti sem chorar.
É que além de ser o lobo mau da sua vida
Sou às vezes escalado para ser tamanduá.
Com muito orgulho recebi a missão
E em pouco tempo ela estava cumprida.
Tive como recompensa beijos de amor
E abraços calorosos cujo valor eu não sei.
Para todos que estão a encerrar sua missão
Peço que experimentem o sabor dessa graça
Bendizendo ao universo por esses instantes
Permitindo que reviva a força do amor
Expressada nos afagos dessas crianças.
Quando for chegada a hora derradeira,
Nao espero deixar nada como herança
Desejo apenas que fique na lembrança
O vovô barrigudo que brincava com ela.
E dentre as bagunças que juntos fizemos
Fique eternizado o amor desmedido
Deste apaixonado pelos netos sapecas
Que no ocaso da existência teve a felicidade
De construir castelos e brincar de verdade
Na doce missão de um caçador de bonecas..