Não sejas flor
Ele fez apenas promessas, não contabilizou as tuas sensibilidades, não mediu palavras, apenas olhou para ti e disse que és flor, foi-se depois.
Disse que seria para sempre, que cuidaria do menino que arquivas no ventre, seria o pai para os teus filhos e o marido dado pelos deuses.
Extinguiram-se os jantares à luz de velas, os doces e os cafés da manhã, hoje procuras por ele debaixo dos lençóis, nas almofadas mais preenchidas e até mesmo no telemóvel, pois não vês uma mensagem sequer, uma chamada por engano.
Está tudo tão estranho que mal consegues perceber, sentes algo a doer, estás irritada com a situação, e por mais que queiras esquecer, és invadida pelas lembranças, as marcas das cartas de amor e as mensagens de madrugada são inquilinos relutantes que nas tuas memórias fazem morada, e destilas raiva sempre, ao lembrares que ele chamou-te de flor.
Não seja flor. Tu não és assim. As flores não engravidam e nem vivem entre quatros paredes. Não fazem amor, logo são amor, e dispensam cantadas que só a mentira percebe.
Não seja flor, seja caule para a tua vida. Deixe florir os teus anseios e lubrifique os teus projectos. Tu não vives num mundo verde, e decerto não és objecto.
No entanto, não precisas de um vaso plástico como sustentáculo, só precisas iluminar o teu sorriso para a alegria de quem te rodeia.
Não te amasses. Construa respeito e dê valor aos teus preceitos. Seja livre, não dependas do raiar do sol, vá tu mesma à busca dos raios e cante canções de peso mole, e não seja flor. Seja coqueiro ou embondeiro, regue as tuas bases com inteligência e ratifique a razão.
Seja apenas tu mesma, flor é que não.