a verdade
Aprendendo, faço o caminho.
Desaprendendo, o reinvento.
É a terceira vez que começo esse texto. Na primeira versão eu ia contar que a política vive uma guerra dentro do seu próprio campo de batalha, meus argumentos eram tão brilhantes quanto polêmicos, mas não sei bem se a certeza ou o medo desfizeram minhas palavras. A segunda tentativa falava da estrutura de alguns livros de poesia, para pensar se eu estou pronto ou não pra escrever algo do tipo, vi que não, e, uma vez mais, arranquei a folha.
Aprendendo faço o caminho.
Desaprendendo, rompo muros.
Três canecas de café desataram meu último nó criativo – ontem foram duas, amanhã, então, serei dependente disso? Me peguei admirando a cafeteira e presumi que estou me tornando um viciado. E já se sabe que um viciado faz o que tem que fazer pra conseguir sua droga. Escrever não é uma exceção (nem de droga, nem de o que faço pra conseguir ela), e, se anseio jogar com as palavras, é minha particular vingança contra a vida (por mais pobre que seja).
Aprendendo faço o caminho.
Desaprendendo, o esqueço.
A verdade (que talvez nem exista) sempre chega tarde. A verdade, quase sempre desagradável, poucas vezes se esconde. A verdade, fodidamente complexa, pouco importa. as pessoas não querem a verdade; as pessoas querem ter razão. A verdade não tem sexo, é sempre uma patada nos ovos, ou uma patada nos ovários. A verdade, que cheira mal – ou, cheira à morte, é o mesmo cheiro, cada vez nos sorri mais de perto.
Aprendendo, faço o caminho.
Desaprendendo, aproveito o labirinto.
Somos repetidas feridas que sangram até não terem mais o que sangrar. Nossos curativos desmoronaram com rapidez e não temos tempo de comprar mais band aid. Se você escapou disso, respire fundo. Senão, pode se enganar e gostar de respirar qualquer ar podre.
O privilégio acaba sendo saber abrir a mente com a dúvida. quem não crucifica suas certezas talvez viva feliz, mas nunca viverá inteiro. Só quem vive quebrado pode acabar completo.
Aprendendo, faço o caminho.
Desaprendendo, causo confusão.
O que você não sabe como começa, não saberá como termina, e tudo que há entre esses dois acontecimentos se chama 'vida'. Privilégio é poder perder tempo com a barriga cheia, a esperança vazia e a cabeça com suas revoltas.
O importante, ao fim e ao cabo, é encontrar o remédio que te alivie um pouco a dor de entender a verdade. A mim, não há remédio além de ler e escrever, isso quem sabe seja meu destino em que não acredito, ou, então, a liberdade que eu impus a mim.
Aprendendo, faço o caminho.
Desaprendendo, também.