Sempre associo seus olhos às conchas que guardam o mar

Quando o amor transmuta-se em uma patologia líquida, na melhor das hipóteses acaba em explosões.

Sendo uma mistura de desejos ocultos e vis que corrói como a ferrugem, ouço pacientemente, enquanto sorrio e choro, o eco da minha súplica recitada. O som como de quem fosse um prisioneiro arrastando suas correntes. Implorando em sussurros mudos todas as madrugadas que me ame, enquanto nos gestos das mãos bailam brasas de cigarros e meio mundo dorme.

Tentando sair lentamente do que julgava ser sonho, certifico-me de que estou acordada. Acelerando o ritmo cardíaco, no ato particular da minha mente instala-se um isolamento. E decido, desonestamente, ir embora de mim.

Percebo que a culpa é motivadora. Mas sinto que uma camisa de força prende meu sorriso. Imortalizando uma expressão de mágoa.

Sempre associo seus olhos às conchas que guardam o mar. Jogadas no quintal estéreo da minha alma.

Às vezes nossa alma precisa de rupturas para sobreviver, e nosso coração de mais tempo para aceitar o que a mente já sabe. Às vezes nem queremos um novo amor. Às vezes queremos apenas alguém que nos conte novas mentiras.

Na minha noite não há estrelas acesas. Afaste-se da minha disforia animal e da efemeridade dos meus impulsos de febre. Mas antes diga-me: traçamos caminhos ou os caminhos nos traçam?

Hellen Leandro

Hellen Leandro Schommer
Enviado por Hellen Leandro Schommer em 29/08/2018
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