sentado na mesa de um bar.
"Não te quer, você sabe"
Repito isso em pensamento uma e outra vez. Quebro minha cabeça contando prós e contras perfeitamente selecionados sobre o quão bem me faz eu sentir algo por ti. Me atormento até demais com tão pouca idade. Pergunto, o que é o amor? Realmente vale a pena passar por tudo isso para ter um pouco desse sentimento que claramente não é como nos apresentam nos livros? Um sentimento que nem sequer estou certo de querer experimentar.
Tudo é meio inerte. Eu vi um casal se beijar na praça e acabei, sem querer, criando um conto comigo mesmo de protagonista e você, ao meu lado, brincando de me amar. Vendo desse ponto, duvido muito que o amor seja destino. Creio que é bem mais algo passageiro, insensato, de impulso, assim como qualquer outro vício. Só que esse ninguém te diz que é nocivo — até mortal, talvez.
Todos consumimos o amor desde pequenos com alguns "te adoro", "vamos brincar juntos" e, até, "te amo" como se isso fosse uma grande coisa. Nasci sem ti, sabe? Vivi duas décadas antes de você chegar e em cada um dos meus anos eu me senti pleno; compartilhei, vivi, quis e fiz tudo que eu tinha vontade em cada momento. Porque agora eu não poderia fazer? Aonde está escrito que um dia você conhece uma pessoa e no dia seguinte se torna impossível viver sem ela? Quem disse que devo amar primeiro a ti do que a mim?
Se necessitamos uma metade da laranja para sentirmos completos, então, pelo clichê, o problema somos nós mesmos. Quem sabe nos amamos muito pouco para entender que somos um número par, mas que não necessitamos uma metade. A gente precisa é de quem fique ao nosso lado e nos faça crescer.
É absurdo. Sinto muito. Mas não acredito em ti.
Brinco com o copo de whisky barato no balcão de um bar qualquer que toca uma música que eu não gosto. Faço isso para matar o momento (e a mim, tambem) sem chegar a me preocupar muito enquanto ergo o copo e afogo, com álcool, alguns pensamentos teus, que não quero (mas não sei como evitar).
Penso um pouco no que vivemos, nas coisas que fizemos, e em tudo que nos dissemos. E isso faz com que um impulso venha até mim, me alcance, e me faça querer mudar de cidade, de nome, negar tua existência e assassinar à unhas o sujeito magro e sem graça agarrado em um copo. Eu gostaria de ter esse poder. Mas quero me pôr em pé e gritar, com todo pulmão, que não vou te procurar nunca mais, que amanhã conseguirei caminhar pelas ruas e não procurar atalhos que me levem até tua casa.
Gritarei até ficar sem voz e não poder dizer mais teu nome. Nem amanhã. Nem nunca. Para que eu nunca mais recorra à necessidade de chamar por ti quando caminho sozinho.
O bar está vazio. Lá fora amanheceu, frio. Comprei mais um pouco de tempo, engarrafado e pronto para ser vendido para sujeitos magros e sem graça. É outra manhã que não sei onde ir, mas, contudo, tenho que fazer.