VIVO PELA BOCA

No momento que minha boca encostou na tua, minha alma, que vivia vagando, voltou ao corpo, abruptamente, pra poder te sentir. A entrada foi tão forte que meu coração, hermético, resolveu bater num ritmo de euforia pra tentar reestabelecer o equilíbrio. As células tremiam desordenadamente e, sem medo de uma metástase ocorrer, resolveram deixar que tudo aquilo se espalhasse. A pele, que não suportava o aquecimento causado pelo seu toque, resolveu suar e liberar todo o calor que havia se instaurado no meu corpo. Seu corpo respondia e quando o meu percebia, se manifestava em arrepios e vontades de te tocar, lento, intenso... ele não sabia ao certo como reagir, mas queria a todo custo te ter quase que dentro, burlando as leis da física e tentando fazer com que os dois corpos ocupassem o mesmo lugar. Há tempos meu corpo não arrepiava, há tempos não se mostrava sem todas as vergonhas e inseguranças e há tempos eu não me sentia como se uma dose de morfina fosse aplicada. Não sei ao certo como a alma percebeu o acontecimento e reagiu, mas foi ali, naquele toque amedrontado de bocas, que me senti vivo.

R.K.