Submundo
Lembro-me bem de uma redação que fiz quando ainda fazia o curso ginasial, hoje, ensino fundamental. O tema era livre e optei pelo futuro. Como seria o mundo então? Por não saber prever, imaginei uma explosão. Uma imensa explosão de estrelas. Cosmos em festa.
Nada trágico, tudo lindo. Imensamente lindo. Universo totalmente feliz. Iluminado. Faiscante. Confiável.
E o mundo seguiu seu curso. Como um rio. Ora calmo, ora tumultuado. Nada do que escrevi àquela época, realmente aconteceu. Eram utopias, afinal. Hoje há estrelas sim, poucas cadentes. E algumas decadentes. Maculando uma pátria tão verde e amarela. Aliás,
cada vez menos verde. E mais amarelada pela fome. Mais subnutrida, mais analfabeta. Cada vez mais doente. Uma pátria escorregando na dança e se esparramando na sarjeta.
Busco pela estrela
que um dia esbarrei
bailando entre nuvens
Tudo era perfeito.
A música, a sapatilha
o palco.
Embevecida dedilhei
um acorde e sonhei um infinito.
E tornei-me pássaro
ciente do seu ninho.
Voei céus, banhei-me em regatos,
criei a prole, povoei espaços.
Semeei sementes,
distribuí abraços.
Agora, na colheita,
a sede me exauri.
Sumiu a minha estrela.
O encanto quebrou-se.
Restou-me o cansaço
já que o laço,
tão salpicado de
verde e amarelo,
virou um trapo
sem acorde
que uma falsa estrela,
conscientemente, maculou.
E foi assim, que dentro de mim, alguns sonhos se foram. Mudo eu ou o que muda? Mesmo assunto, velho tema, submundo.