A BARATA
A barata
Certa feita,
Fato cotidiano
No mundo inteiro.
O inseto nojento
Sem qualquer atrativo
Que se possa suportar,
Passa a minha frente
Com a costumeira destreza.
No primeiro momento
Pisar na bichinha,
Mata-la sem piedade.
Acua aqui acua acolá,
- consigo esmaga-la.
Depois de tantas,
Desta vez
Resolvi deixá-la
Ali inerte
Com as perninhas
Para cima.
O intuito
Era observar
Qual seria o fim
Daquele resto mortal.
Aproxima-se um camundongo,
Cheira aqui , cheira lá e,
Ao aproximar,
Uma surpresa;
Uma movimentação frenética
Do inseto moribundo
Afugentou o ratinho.
O inseto continuou inerte
Como se estivera morto.
Pacientemente continuei
A minha observação.
Eis que sorrateiramente
Um belo exemplar escorpião,
Marrom escuro
Em passos cautelosos
Hasteando galhardamente
Sua arma mortal –
--pensei - que banquete!
A barata é a sobrevivência
De tal venenoso!
Ao aproximar-se
Triunfalmente ao banquete,
Aos sons de clarins e trombetas,
O inseto moribundo,
De patas para cima,
Asas espremidas,
Começa a rodopiar.
Com tal movimento
Afugenta o garboso escorpião.
Volta à calmaria –
--um silêncio sepulcral.
Já com piedade
E arrependimento
Da crueldade
Que havia cometido,
-- pensei em reanima-la.
Diante de todo o sucedido
Já era motivo
De uma profunda reflexão.
Resolvi esperar
E continuar a observação
Por mais algum tempo.
Fi-lo –
Eis que a protagonista
Começa contorcer o seu corpo,
Como se estivesse
Fazendo uma abdominal.
-curioso, óbvio,
-continuei a observar,
-contorcia daqui,
Uma pausa,
Outra contorcida,
Até que
Como se fosse um arco
Colocou-se em posição normal,
Começando imediatamente
A andar com naturalidade.
Tive um grande alívio,
Pois aquele inseto
Tão asqueroso, nojento,
Causador de pânico,
Abundante em nosso planeta,
Acabava de dar uma lição de vida!
-como sobreviver
Em situações antagônicas,
E muitas outras lições!
Resolvi narrar o fato
Para que os que tomarem conhecimento,
Também possam refletir
E,
Tirarem as suas próprias conclusões!
Belo Horizonte, 25/02/2016 - Atalir Ávila de Souza.