RAÍZES
RAÍZES
A escrita fina deita sobre a folha, insistindo em visitar as raízes do passado, quando os pés descalços pisavam a areia quente a caminho do arrebentar das ondas. Tantas vezes esse vai e vem acompanhou seus passos, tantas vezes o arrepio subia ao contato da água salgada, depois o mergulho que o lavava das dores do corpo e da alma. Ali, purgava seus veniais pecados e apreciava com olhares os corpos desfilando, que tanta cupidez lhe causava. O céu, quase sempre azul e dourado, era testemunha desse ritual, enquanto gaivotas esvoaçantes pareciam carregar seus sonhos, para além da linha do delineado horizonte. Barcos e navios entravam e saíam da baía, qual maré, des(carregando) as quiméricas viagens. Até que o senhor tempo foi matando as raízes, e a semente ao voar pelos ares, foi plantada em terra firme, sem areia, sem sal, regada por água doce, gerando flores e frutos, belos, mas sem o tempero e o frisson das ondas do ontem longínquo, marcado agora numa folha com linhas que não unem céu e mar.