A delicada arte do frio
São boas as estéticas do frio, hoje, na rua, me senti fora do país, o dia cinzento que já faz parte do nosso cotidiano, os casacos coloridos, as mantas, as botas, as luvas, onze graus agora. Aqui é um outro Brasil. Mas ainda não é o Brasil que eu quero. Quero aquele país livre da corrupção, da desigualdade, sem os dramas urbanos, quero o Brasil de escolas que não fecham e dos hospitais de qualidade, que tratam todos por igual. Não quero um Brasil de carnaval, carnaval, só se for o popular e espontâneo com confete, serpentina e gente alegre de verdade. Mas voltando aos dias de inverno, há tanta poesia nas tardes de pouco sol, de muito sol e até de chuva, existe beleza até quando hibernamos. Nos recolhemos mais cedo, nos aquecemos e nos tornamos mais solidários, é possível ler embaixo das cobertas e comer bergamotas ao sol. Existe beleza nas cores do inverno, nos cafés, nas feiras, e nos parques, existe beleza nas águas do rio. Há beleza nos morros que circundam a cidade, nos telhados envelhecidos, no limo que se forma nas calçadas, também existe a beleza melancólica dos muros, ficam craquelados depois da chuva. Já vi ruas com caminhos amarelos – pelo cair das folhas – e ruas com muitas cores, nestes tons ocres do frio. Encantam-me as estéticas do inverno com as suas geadas, com a música e os acolhimentos.
B a t