DESPERCEBIDA
 
No fim da tarde,
centenas de pernas apressadas
ainda povoam a avenida.
Se vão ou vêm,
todos se mostram convictos
quanto ao próximo destino.

 
Enquanto isso,
a moradora solitária
de uma curva da calçada,
vencida pelo cansaço,
estende seu papelão...

 
Meticulosamente,
ela o põe
o mais próximo possível
da parede.
Não quer incomodar
aquela gente ocupada.

 
Deitada enfim,
põe os chinelos sob a cabeça,
se esquiva da luz,
e, abraçada consigo
(despercebida!)
adormece.
Ela também tem pressa:
tudo que lhe resta
é alcançar o amanhã...

 
Antonio R Filho
Enviado por Antonio R Filho em 21/08/2018
Reeditado em 21/08/2018
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