Inefável

Queria poder te encontrar outra vez, por acaso, no atravessar de uma rua ou saindo de um café.

Reviver aquele cruzar de olhares com suave interesse.

Das borboletas voejando no estomago, o ligeiro perder de rumo e enrubescer das faces.

Quem me dera voltar no tempo e jogar displicente meu lenço ao chão e você ao pega-lo, gentilmente roçar a minha mão.

Aceitaria o convite para um sorvete, sentariamos num banco da praça e as horas passariam tranquilas, embaladas pela conversa inocente.

Quem dera pudesse novamente sonhar com a cor de seus olhos e seu jeito encantador de sorrir e poder enfim dormir.

Folhearia o horóscopo, Vênus estaria amistoso e os dias seriam cheios de sol.

Passaria sempre pela mesma calçada cantarolando a balada de amor que escolhemos para ser nossa.

Haveriam piqueniques, matinês do filme da moda, passeios de mãos dadas na praia ao pôr do sol.

Quem me dera outra vez as flores e bombons no dia dos namorados e as despedidas eternas ao telefone, atestando nossa doce infantilidade.

Os dias seriam calmos novamente em um calendário cheio de possibilidades.

Quem me dera...

A névoa em meus olhos cansados, não embaçou a memória de um tempo em que tudo era bom porque eu tinha você.

Abro nosso álbum e tateio com carinho a flor guardada, desidratada pelo tempo. Ela faz parte das doces recordações do primeiro beijo, dos filhos, dos netos, tão importante quanto era afagar seus cabelos.

Fico aqui te esperando, sentada em nossa varanda, todo fim de tarde. É meu tributo aos anos de felicidade. Passaram tão rápido... Dizem que é assim quando estamos em plenitude com um amor de verdade.

Não me queixo da solidão, tenho as lembranças tão vívidas, tão companheiras que até as memórias das pequenas brigas, tão idiotas, são benfazejas e me fazem rir.

O que me incomoda é a saudade, a parte de ser inteira ao mesmo tempo sem metade de mim. Quero ser anjo como tu para poder te reencontrar e reviver o que não consigo viver sem ti.

_Rose Paz_