Num dia qualquer (4)
É porque amo que choro. Amo o sentimento e sinto muito, sinto tanto que nem sei mais o que choro. Amo o que sinto quando contemplo a vida, a casa vazia, a memória fareja fotografias. Convoco sorrisos distantes e deságuo as distâncias que prolongam meus dias. Convoco a muda alegria. Tudo se distancia na sensação do silêncio, silêncio no suor das paredes, suor na congelada euforia quando na marcha a boca tragou o vento e engoliu a semente da voz rouca a brotar nostalgia.
Preciso amar o sentimento da vida e amo tanto, amo muito que nem sei mais o que amo. Amo lacrimejando os sonhos das noites interrompidas, amo as luas de agosto, amo o fosco dessa luz que me embaça, amo o sol na minha face quando fecho meus olhos e disfarço, amo esse amor de laço pelas manhãs brancas germinando nos cabelos, amo o castanho do seu pelo na crina do meu cavalo sem sela na fuga dos dias... eu contemplo a vida na sua ironia a me selar no tempo. Amo e choro tanto que me dá contentamento.