Voltar é possível..

O embuá passeava solenemente pela sala de chão batido.

A cama se destacava forrada elegantemente com a colcha de fuxico,com cores variadas sobra das costuras feita por minha avó.

A mesa forrada com toalha de crochê,bordada com os dizeres:aqui reina a felicidade.

O velho relógio Kuko quebrava a monotonia da noite chuvosa.

Eu concentrado ficava,admirando a lagartixa hipnotizando o mosquito,que desfilava na travessa de angico preto que segurava a cobertura de sapê.

Deitado no colo acoxegante de minha avó,recebia o inesquecível cafuné daquelas mãos cansadas pelo mais de noventa anos,mais que nunca perdera a ternura.

Tinha medo do boitata,do cavalo sem cabeça,do lobisomem e da misteriosa mãe d'água.

A felicidade e o medo me faziam adormecer.

Minha avó reunia forças e me levava até a cama de colchão de crina com travesseiro de marcela.

A tranquilidade encurtava o tempo.

O relógio Kuko dava cinco badaladas,o galo três cantadas.

A mesa estava posta para a primeira refeição.

Café com tutu de feijão.

Não, lá não tinha pão.

Felicidade sim,parecia prantação da flor da felicidade ,agora em extinção.

Que se acabou por falta de amor e excesso de ambição.

Queria volta novamente .

Fazer tudo diferente.

Viver ali para sempre.

Sem pensar ,nunca sair.

Zam Neves
Enviado por Zam Neves em 19/08/2018
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