[Versos Alheios]
Acaba-se a noite, e sei que todas as noites podem se acabar, e agora, é apenas mais uma possibilidade... assim como há uma forte possibilidade de que o sol volte a brilhar amanhã.
Sendo um físico nuclear, tenho de pensar em possibilidades — que tudo nesta vida seja uma questão de estatística também é outra forte possibilidade! Seria uma contradição reafirmar que ter certeza não é a minha profissão?!
O sábio, quem é o sábio? A estatística das experiências traz o clarão de saber que não se sabe... nada?! Será?? É ruim, hein... mas também é bom pensar assim... ou nem é, nem está, nada vale nada e tudo vale nada! Olha só: morremos mesmo é por nada! Suprema a ironia de que tudo se resuma em assistir, estarrecido, o Nada baixando sobre mim na asa negra da angústia... sempremente, sempre, sem remédio, nem a calunga-do-campo dá jeito nisso!
Andei longe, de longe venho - mas não deixei rastros... acho que não - por que então guardar o resquício dessa ambição idiota de querer ser lembrado?? Réis-coados, madrugada extinguindo-se no nada, na solidão, resta-me navegar em versos alheios - esses, do companheiro Atahualpa Yupanqui:
... A la noche la hizo dios
para que el hombre la gane,
transitando por un sueño
como si fuera una calle...
Vou dormir, vou ganhar o restinho de noite. E não vou pensar em possibilidade alguma; ou seja, vou pensar na morte... Vou pensar em voltar para Minas...
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[Penas do Desterro, 07 de setembro de 2007]