Polpa

Abdias cria em palavra. Elegeu uma: Esperança.
A polpa dela tinha apenas quatro letras; palavra curta num conceito eterno.
Abdias Esperança, era seu nome. Aguardava, acreditava, rezava.
Assediava a beleza e a bondade que sentia na natureza...No seu baú de palavras moravam outras que denunciavam seu viver. A principal delas era amor.
Romântico e religioso tinha um nome exposto na polpa de uma das palavras recém mal traçadas linhas, como diria minha mãe. De dia trabalhava na fábrica de tecidos...Tecelão. De noite viajava nos sonhos e rabiscava no papel de pão sua poesia que nascia do fundo do seu rio, enquanto passava seu tempo....Aprendera a fazer poemas perfumados. O alecrim era seu preferido...Colocava também uma pitada de amor.
O rio dava o banho, a piaba e a beleza de navegá-lo em troncos de bananeiras... Mas o rio também dava o schistosoma. O banho no arrebol era um quadro a óleo. As jangadas e maresias desaguavam nas ladeiras dos desenganos. A Esperança,às vezes, doía, mas sua polpa a mantinha viva. Escrevia, escrevia e nas poesias... descobriu-se feliz; fazia da noite um tempo de paz.
Abdias reescrevia Deus na sua poesia...Na saudade se resolvia nas rimas, como podia.