CORTE SECO
Adormeci tossindo e acordei assim. Vociferando inauditas palavras de forma gutural. Meio bicho acuado, enjaulado, rugindo do gradil ao passante curioso. Enquanto essa fera ruge, permaneço recolhida e calada. A tosse tomou conta de mim, da minha voz e, de tempos em tempos, eu sou ela gritando ao mundo algo que me vai entalado, engasgado. Talvez, sejam os tantos sapos engolidos ao longo dessa minha vida. As ofensas a contragosto perdoadas. Os amores, os afetos silenciados. Tudo junto e misturado querendo o meu peito explodir. Culpa da minha boa educação que não sabe dizer não. Não sabe ferir com docilidade como muitos a muitos fazem.
Sob o peso da culpa, sigo, explodindo na garganta o que me fere por dentro.
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