Sou daquele tempo
      se catavam versos ao chão
     eu sabia ler
     tudo eu lia
     lia as sementes
     as ranhuras das línguas de vaca
     tudo eu escutava
    conversa de andorinhas sobre o muro
    o buliço do vento repicando a trovoada
    o cochicho da chuva chegando devagar....
   
   
    E  sobre os trechos escuros
    relampejava a escuridão pelos brejos
   lia-se mesmo  em página fechada
   riscos incandescentes dos rios
  brilhavam pelo céu
  os rios quando bravos mudavam de lugar...
 
 
 
Isso e mais um punhado de alguma coisa
imperecível
 
 cor púrpura da caixa aveludada
minha máquina olivetti studio 44
cheiro daquela caixa
do óleo das teclas  olhos de tintas
ultrassom  não existia....
só a cadencia sonora daquele alfabeto
que guardava em segredo os nascimentos...

 pois sempre houvera eternidade
do que se lia e escrevia
aquele tempo nunca passaria
...
 
(Memoriais de Zocha)