REVOADA
Era domingo. E naquele dia ela acordou com uma sensação diferente, uma alegria indisfarçável, aquela de quem faz amor logo cedo. O silêncio da cidade contrastando com o alvoroço dos pássaros na árvore crescida ao pé do prédio trazendo reflexões. Era um passaredo o que trazia dentro do peito. De certo que era. Um passaredo em revoada. Lembrou - se de Fernão Capelo Gaivota desafiando as outras gaivotas que disputavam os peixes perdidos nas redes lá embaixo, no tomadilho do navio. As asas que lhe sacudiam o peito eram como as de Fernão. Buscavam o alto, não o piso lavrado. Era o alto, luminoso e esplêndido, o que lhe atraía. O alto com seu infinito azul cobalto, azul real, azul sem fim. Eram esses azuis que lhe enchiam os olhos naquele manhã modorrenta. Precisava liberar as asas de seu peito e lançar-se no infinito espaço. Ir ao encontro do destino que lhe acenava num chamado: "Venha! Abrace o que já é seu e só a você pertence."
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