EU LEITORA
Tudo começava pelo cheiro. Eu tinha que cheirar o livro e pegar um pouquinho da maceração da tinta no papel. Sentir o aroma da feitura do próprio papel. Depois, era imaginar as tantas árvores necessárias para fazê-lo e de como abraçar um livro é também abraçar uma árvore. Eu que amava as árvores infinitamente. Em seguida, era passar os dedos pelas folhas e encostar o papel ao ouvido para ouvir o estalar rumoroso ou contido de uma folha roçando noutra. Não há sensação de solitude maior que, no silêncio de teu teto, ouvir o farfalhar das folhas do teu livro sendo lido por ti. Privacidade é teu nome; o nome do encontro consigo mesmo. Seguia-se, então, o olhar, olhar, olhar. Contemplar. O admirar-se vinha em seguida: "Meu Deus, esse livro é meu!" "Sou eu leitora!"
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