O meu gostoso e estimulante realismo ficcional!...

O meu gostoso e estimulante realismo ficcional...

- I -

Morna, modorrenta, a vida seguia um tanto fora do seu curso!... E eu ali, estirado naquele banco do parque, largado de toda e qualquer obrigação normal aos pacatos e produtivos cidadãos... Estava mais pra crocodilo louco para abocanhar a sua presa, que para animália de serviços primários, tal era a minha aparência de pré-adolescente traquinas, da terceira geração "enta"! Aparência associada em prosa, esforço, rima e visual ao enrugado e ensolarado "jack...aré!", um assustador bichano anfíbio e cheio de dentes e apetites carnívoros, ali criado solto no Parque Barigui, em Curitiba, mas natural e sabiamente tido e havido, e mais ainda temido como o "capitão nascimento" do lugar...

Pessoalmente, e eu mais, beeeem mais me identificava com o indecifrável bicho-preguiça, isso sim... Esse folgadinho da natureza, que por certo intencionava chegar mais pra pertinho de mim quem sabe ali pela última linha deste texto. Oque nisso muito provavelmente, e eu acabe vencedor, dada a minha contumaz prolixidade gramatical... Quando talvez ele tenha mesmo notado alguma semelhança entre nós...

Bicho de sorte! Muita sorte, nesse seu intento, devido à minha aguda e crônica prolixidade gramatical a beneficiar alguns e tanto enfadar aos demais...

Aproveitando a oportunidade, desculpem-me se às vezes quaaaase em sempre... E eu pareça assim um tanto enfadonho, mesmo! Muito embora os mais aguçados já perceberam que se trata apenas e tão somente do meu jeitão... (Até por que sou inimigo declarado do tal jeitinho, seja gringo ou brasileiro) ...De escrever as minhas umtantoquanto realistas his (es...)tórias. Estórias, ou histórias... como nos bons e velhos tempos do "fio do bigode". Que todos nisso podem confiar serem as minhas narrativas, histórias com pelo menos três quartos de H pra lá de maiúsculo, pois com veracidade "quaaase" completamente comprovável.

Aliás, vocês viram que até aqui, e não cheguei a balbuciar a palavra estilo! Visto que sou um mero, nostálgico e bucólico poetinha popular... Nisso, que me perdoem os politicamente corretos! Mas a palavra "popular" faz aqui lembrar um velho ditado dos "pudins de cachaça", essas simpaticíssimas e falantes criaturinhas dos botecos da vida, o qual mais ainda dificulta o seu tratamento:

""" Pô, meu!...

É craro qui aprefiro sê assim...

...Um bebum popular!

...Qui sê um dessis pobrinhos i abandonadus

Arcuólatras anônimus!...

Agora, ocê vê si num enchi mais u meu saco...

...I mi dá mais um mé, aí!

Mais óia só o zóião...

Dessis diachus di genti curiosa. """

...Quando está realmente difícil e cada vez mais onerosa para a sociedade, a sua recuperação.

Se é que quaisquer desses simpáticos cachaceiros, também os drogaditos "voluntários" e contumazes, esses que superlotam as instituições "sem" (hic) fins lucrativos, realmente querem voltar à sobriedade...

- Visto assim "vivendo", nesse lastimável estado de subvida, receberem ajuda de custo e benefícios maiores, beeem maiores que o minguado, suado e atrasado salário míííínimo de milhões de trabalhadores brasileiros braçais formais, neste nosso imenso e rico país que, disparado, é o campeão mundial do indefectível e hediondo "jeitinho brasileiro", e da corrupção em todos os níveis e áreas sociais, mormente na atuação política. Bem como nossa nação é internacionalmente reconhecida como campeã disparada em muitas, muitas e muiiiitas outras sem-vergonhices mundialmente marcantes do caráter (ou falta dele...) deste nosso povo, quase nadicadenada varonil...

Puxa vida!... Juro que nem era pra ser tamanha a minha prolixidade, neste texto... Mas, reconhecendo que divaguei feio ao deslizar pelo meu complicado senso de justiça, doravante vou me esforçar para voltar ao eixo principal do texto, e filtrar as situações pela idade... Até em respeito à sua pessoa que ora dedica precioso tempo, a ler estes meus escritos nem tanto assim poéticos... E nem tanto assim racionais...

Calma, calma, gente! Não se desesperem, nem se descabelem...

...Tem mais his (es?)tórias deste meu gostoso e estimulante realismo ficcional, beeeeem mais!

* * *

O meu gostoso e estimulante realismo ficcional...

- II -

Ainda sentado ali naquele meu "observatório", um confortável e estrategicamente bem-localizado banco do Parque Barigui...

Um tantinho mais me esforcei, e para todos os lados olhei, olhei e olhei...

Olhei até onde os meus olhos capturavam boa e nítida visão - E não é que realmente me espantei ao me flagrar olhando, e voltando e voltando e voltando a olhar! Credo, gente! Mas a verdade é que realmente olhei... E olhei com este meu velho modo de olhar já bastante bolorento e babão, mas guloso qual boi de corte no sal, para os mesmos "alvos" que a juventude local tanto olhava... E não só me contentei em sonhar, mas bem logo me vi sonhando até em pespegar?... Então, um tantinho de nada envergonhado comigo mesmo, balbuciei:

- Vixe, ora, ora, seo Zé!

Será que envelheci só por fora... E psicologicamente permaneço tal qual o rapazote de outrora, cheio de viço, energia, charme grisalho e milhares de safadas intenções?...

Sei lá! Sei lá! Sei lá!...

Longe vá! tal malévola conclusão, mas... Será isso tudo, aquilo que chamam pelaí de devaneio poético, ou seria mera e grosseira divagação minha?... Sinceramente, eu não me permito acreditar que o tempo passou e nada mais em mim restou... Nada, além de um velho e ridículo "terceiroento" babão, que insisto em não enxergar nem sentir as marcas da realidade do tempo, velozmente a passar... Dificultando pra caramba as paqueras, flertes, ficadas, sei lá!... Até mesmo ai, ai, ai... o simples e prazeroso esforço de urinar?

Hipócritas pudores morais à parte, e o fato, triste ou alegre, ou saudoso fato, é que a minha visão, daquele ponto... - Legal, pois falando em ponto de visão, e aqui me lembro do grande mestre literário, o cronista paranaense José Wanderley Dias, com a sua maravilhosa coluna diária "A vista do meu ponto", na Gazeta do Povo, então na última metade do século vinte. - ...Mas a minha visão, daquele ponto do parque, realmente era uma visão linda, lindíssima, apaixonante! Jacarés te mordam!... Mas ali, na veia mesmo, ninguém vai... Ao contrário, e todo mundo fica assimmeioassim como aqui ora relato... Só de flertezinhos e paquerinhas... e uma ou outra mordiscadinha aqui e ali... Que ninguém é bobo nem nada!... Mas pegar, pegar, ah, isso ninguém ali se atreve... Até mesmo porque, até aonde a vista alcance, e ali se enxerga mais policiais municipais que bichos-homens - e mulheres, safados...

- Vixe, minha santinha habladora! E será que alguém aqui, em limpa e sã consciência, quem sabe... talvez.... Nunca se sabe, né?... Será mesmo que alguém aqui possa ter tido tamanha coragem de ao menos imaginar que até agora falei de mim, minzinho mesmo... Sendo apenas este pobre e tímido poetinha (i) r racional?...

- É claro que não estive aqui a falar sóóóóóó de mim, gente!... Sou eu que tenho essa mania de "vestir" um pouco demais a roupagem dos meus (minhas) personagens... Esses coitados! feitos meus parceiros literários "na marra"...

Até mesmo por que, nos meus parcos e medrosos escritos, procuro nunca esquecer que aqui em Curitiba isso de escrever e falar publicamente, falar publicamente e escrever, olha só, que quaaaase tudo isso acaba virando processo ou feitiço, contra os autores ou falantes... Então eu me enfio de cabeça na história, mas sempre dou um jeitinho deles, personagens, levarem a parte maior da culpa em tudo, embora umtantoquanto egoísta, também nunca os deixe levarem todos os aplausos, que não sou assim tão bobinho, ah, isso não!...

Continuem calmos, please! Porque se ainda tiverem um naquinho de paciência comigo, prometo "p'roceis" que estes meus textos seguirão dentro em pouco...

* * *

O meu gostoso e estimulante rrealismo ficcional...

- III -

Pois é... E eu, assim um tanto quanto ingênuo, sei, mas continuo a insistir em afirmar que respirar e sonhar "ainda" não pagam impostos neste devastado mas paquerado paraíso tupiniquim. Ainda ali no Parque Barigui, dando mais um tempinho de descanso do almoço para a minha equipe ( que de trabalhar comigo, isso ninguém se cansa, não...), e não é que acabei mesmo "grudando" os olhos nas loiras e loiraças, e nas morenas e morenaças, e também nas beeeem amorenadas, as belíssimas mulatas curitibanas, essas gulosas tentações nacionais?... É claro que também tremi as sobrancelhas para as ruivas, essas mulheres firmes, lindonas e misteriosas... Desde os tempos de Esaú e Jacó, quando ali se comia muito feijão vermelho... E a maioria do povo de então, talvez até naturalmente, tinham os cabelos avermelhados. Embora, e nisto ninguém aqui poderá me contrariar, as mulatas, ora, ora, ora, imaginem só isso... É que ao meu sexagenário modo de ver, as mulatas, na verdade, elas não tem nada, nadica demais, gente!... Nada, além de apeeeenas personificarem a santíssima e sacramentada perdição nacional! Ai, ai, ai... E digam se elas não são umas verdadeiras "dilícias", e milagrosos colírios para os olhos!

- Minha nossa, cruz credo! Será que atarraxei demais a parafuseta da minha costumeira e racional visão poética?...

- Haja fôlego, minha gente!... Será que pirei, literalmente? Acreditem ou não... Mas o doce e delicioso fato é que até esmaecidas - ou desvanecidas, para os duros de coração... imagens de duas ou mais tímidas, mas sapequinhas lapeaninhas lá dos meus tempos dourados... - A minha adolescência!... Vivida ali na minha terrinha querida, a cidade da Lapa! E por certo aquelas meninotas, hoje quase já "terceiroentas", assim como eu... Elas reaparecem inteirinhas na minha memória: Uma, loirinha e terna e meiga... Lindinha, carinhosa e "do bem"... Enquanto "a outra"...

- Barrabás, cruz credo! E não foi então, justo ali na Lapa, que nasceu em minha vida essa terrível expressão - a outra -, sempre e sempre a lembrar confusão nos tradicionais e sólidos relacionamentos conjugais? Mas, retornando à imagem das lapeaninhas, e aquelas minhas "outras" de então, caramba! A segunda danadinha era morena, assim muito bem amorenadinha e tentadora no seu tom jambo... E ainda mais "diabólica" , embora lindíssima nos seus cabelos negros! Mas bastante arisca, enquanto provocantemente fogosa... Dessas criaturinhas capazes de fazer arder até pau molhado... E, por que não dizer a verdade?... Gostooooosa! ...enquanto sinuosa, pedaçuda e voluptuosa! Portanto, tadinha dela, mas uma pessoinha completamente enveredada para o mal...

É até natural pensar que uma dona assim "havera de ter um pacto com o sombrio", o nojento inventor da proibição, o bicho ruim, o pai da mentira, e o tentador dos humildes e generosos e fervorosos corações... E não haveria de ter, então? Isso tudo eu afirmo, sem medo de falar besteira... Enquanto aqui duvido... dó... dó... dó... Que algum marmanjo, mesmo que um pouquinho, um naquinho só... Se preze em sua macheza... não concorde completamente comigo, que eu já estive bem lá... na portinha do paraíso!... Mas do inferno, também ... Ao conhecer o amor e a paixão, numa mesma ocasião!

Eta, padeirinho sortudo que eu fui! Sortudo e charmoso... Isso tudo, sem contar os namoricos do ginásio, e as "santas saídas", ali na igreja matriz de Santo Antonio, na Lapa, a minha querida e jamais esquecida terrinha... Donde sempre saltavam algumas "tilapiazinhas" para a minha rede...

He, he, he! Tudo bem, tudo legal! Até mesmo porque a minha memória, esta que já anda bastante cansada da lida, ela vem me avisar que não preciso me descabelar de falsos pudores por falar e enaltecer tanto a beleza das mulheres curitibanas e lapeanas... Pois nesta vida carnal tudo que é instintivo, espontâneo, mas devidamente consentido por ambas as partes envolvidas no mesmo tesão, e portanto um sentimento "do bem", isso tudo acaba sendo aceito com naturalidade.

- Pois não é que hoje em dia, e quase tudo pooode?

Sinceramente eu creio estar certo ao nisso acreditar... Ou, queeem saaaabe... E eu também já estaria a assim padecer... Vítima deste meu estranho realismo ficcional?...

- Vixe, minha santinha habladora! A senhorinha viu só como eu dedoisdigitei, hoje? Mas cadê o tecladinho virtualizador do meu terabáitico, gente?...

Grato,

Armeniz Müller.

O trovador lapeano...

...embevecido com as harmoniosas paisagens do acolhedor Parque Barigui, em Curitiba...