O VELHO, O TEMPO E A SOLIDÃO

O dia escureceu de repente. Venta. o barraco treme.

O velho se encolhe dentro do tecido surrado de suas roupas.

Olha da varanda no terreno redemoinhos que dançam levantando folhas pelo ar.

Anunciam a tempestade que se aproxima.

Sente-se só porque de alguma maneira o mau tempo o fez perceber que poderia ter alguém com quem partilhar seus medos.

Essa solidão lhe aperta o peito. Traz memórias. Fantasmas de gente que se foi, e que agora vive apenas nas imagens opacas de sua mente, em cenas esmaecidas de jantares de antigos natais ou almoços de domingo.

Memórias de Sorrisos que se perderam no caminho dos anos e que agora, em suas lembranças, são apenas bocas contraídas e os sons das gargalhadas dos dias felizes tornaram-se sussurros em suas lembranças.

Sussurros de gente que a vida levou, Gente que a morte tragou. Gente em quem ele deixou um pedaço de si. Gente que levou dele um pedaço para só Deus sabe onde.

Os minutos passam. A tempestade evolui. Os pingos metralham agressivos o telhado. O vento uiva como um lobo faminto em uma noite de inverno. Quer pegá-lo.

Consciente do perigo ele corre para a porta. Entra no único cômodo da casa. Sente-se agora seguro. A fúria dos elementos não ousará atravessar a madeira das paredes, ainda que gastas pelo tempo elas permanecem em pé. Assim como ele, o tempo pode ter dobrado a sua compleição física, encarquilhando-o, ele, porém, permanece em pé.

Esse pensamento enche-o de coragem, e diz a si mesmo que o medo vai passar. Que em algum momento, a escuridão vai novamente dar lugar à luz do dia. Os fantasmas fugirão de volta para os seus túmulos. O vento tornar-se-á em uma brisa acariciando o seu rosto e a solidão... a solidão será apenas mais um pensamento, adormecido, oculto, reprimido pela rotina dos dias.