Espiando mulheres
Enovelando sonhos nas pontas dos cabelos, vai o vento nu fazendo amor pelos ares que move. Conta minúcias no pescoço das mulheres lindas, que, como canções, pingam no entardecer, povoando a rua no andar de volta para casa. Faz frio e elas ficam mais elegantes. Os tecidos se perfumam de peles, loiras, morenas, ruivas e mulatas.
O tempo leva nas mãos, juventude e velhice; e vai semeando em cada ser, segundo as determinações da matéria. Cada olhar de encontro a outro, fixa história por onde pousa, mesmo que não seja contada. Um aceno, um oi, a vida é mecânica nas relações, mas é sustento nas interações. As dores sentidas são idênticas a todos, assim como as cores das mulheres lindas que passam.
A vida carrega saudades no colo, aquelas criadas nas intenções dos amores. Acúmulos de pedaços de tudo, desnorteadas ilusões. As pessoas são o que são e um tanto quanto dizem os outros.
Por isso algumas se acham superiores. Comumente se dão abraços, contudo nem sempre se envolvem neles. O fato é que a vida é mesmo um processo de individualidade dentro da sociedade, até que se toque que vinculação é coisa imediata. Logo se pede socorro.
Lá se vão as mulheres, passando. De casacos e calças jeans incitam desejos. Cada uma delas leva em si mistérios.
Passa a menina de rua, pele marcada pelo chão em que deitara à noite. Roupa suja; Elegante na alma que chora. Vai-se embora sumindo na esquina. O inverno cultua arrepios nas peles e as mulheres caminham apressadas. Agora vem a gostosa rebolando.
A passarela da vida é surpreendente e desfilam sempre todos os tipos de pessoas, trajando sempre a mesma nudez.
Mulheres elegantes, mulheres de rua, ninguém é melhor do que ninguém.