O crepúsculo da vida!...
Qual estrelas cadentes singrando os céus...
... Cupido feriu o meu coração!
Tem décadas, séculos, milênios já...
...Sei lá!
O que sei, realmente sei, é que o coitado
Do meu velho e frestado coração...
...Sangrando, quase morria!
Em carente taquicardia amorosa...
E assim anulava em mim
Quaisquer resquícios de razão...
Que ao menos se ajustasse
Ao suave e harmonioso ritmo do amor!
No médio e tênue horizonte, aos poucos
Quase já a vislumbrar.
Isso nem sendo ainda a hora crepuscular!...
Se morena, assim bem amorenada
Ou se uma ruiva brava, dessas até avermelhadas!...
Se uma aparição loira fenomenal
Ou uma mulata... a coqueluche nacional.
Isso tudo confesso que nem sei...
E nem me dou ao extenuante trabalho de buscar
De tais enfadonhos detalhes... lembrar.
O que até hoje eu bem sei...
Pois nem vi, mas desde logo senti!
Oh, como isso eu senti profundamente...
Ela era uma donzela!
Uma donzela em abundância de vida...
- A minha prometida!
Sim, sim, prometida ao meu já então amadurecido
E impaciente coração...
Amadurecido, calejado e sofrido, mas jamais endurecido coração!
Que ao vê-la
Naquela delicada beleza...
Cheirando ainda ao delicado frescor natural...
Da recém brotada mocidade...
E de mim se achegando, assim beeem de mansinho...
Enquanto eu lhe ensaiava
Uma belíssima...
...Mas um tanto ingênua canção de despertar!
Que num zás-trás virou cantiga de ninar...
...Isso nem sendo ainda a hora crepuscular!
Pena, oh pena! Que a vida tenha passado num zás-trás!
E que num relampejar, eu tenha assim envelhecido...
Ela, a minha babezinha!
Talvez até de tanto ao meu lado sofrer...
Amadureceu também.
E mais, bem mais que eu, pensava... me amou!
Mas é claro que jamais ela teria me amado
Tanto quanto eu, que algo assim trepidante, aos solavancos...
...Muuiiito, mas muuiiiiito mais, por toda a vida, a amei!
E eis que ainda assim, amantes, cá estamos...
Juntos ainda...
Embora já bastante trôpegos pela teimosia
E pela felice... idade!
Mas ainda apaixonados...
Apaixonados e briguentos, briguentos e apaixonados...
...briguentinhos de amargar!
Algo assim do nosso jeito felizes...
Pois que desde sempre compactuamos seguir juntos
Vivendo e convivendo...
Brigando e as pazes fazendo...
...Muuuiiiiitas vezes refazendo!
Especialmente estando já no limiar...
...Da nossa hora crepuscular.
Armeniz Müller.
...O arrazoador poético.